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[RESENHA #717] Missa do galo, de Machado de Assis

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Inquestionavelmente o maior nome da literatura brasileira e um dos cem mais importantes escritores do mundo, Machado de Assis também se consagrou como autor de textos curtos. Neste volume estão alguns de seus contos mais notáveis, como "Missa do Galo " e "O caso da Vara". Neste, ele não hesita em colocar Damião diante de um dilema angustiante, usando-o como exemplo das relações de interesse e compadrio características de nossa sociedade. Já no celebrado "Missa do Galo", o autor volta a um tema constante em sua obra, a mulher, e faz de Conceição uma protagonista inesquecível, tanto para o ingênuo Nogueira, seu Hóspede, quanto para o leitor. Composto apenas de um único episódio - o diálogo carregado de sensualidade entre eles -, este conto explora com maestria a força sedutora das palavras, dos silêncios, dos sutis movimentos e das indecisões insinuantes de Conceição.

RESENHA


O conto Missa do galo, publicado em 1893, é uma das obras mais famosas de Machado de Assis, um dos maiores escritores da literatura brasileira. O conto narra a lembrança de Nogueira, um homem maduro, sobre uma noite de Natal da sua juventude, quando ele teve uma conversa íntima e misteriosa com Conceição, a esposa de seu primo Meneses. Nogueira, que morava na casa de Meneses, havia decidido ficar no Rio de Janeiro para assistir à missa do galo na Corte, enquanto os outros membros da família viajavam para a roça. Na véspera de Natal, ele ficou na sala lendo, à espera de um vizinho que o acordaria para irem juntos à missa. Nessa noite, Meneses saiu para encontrar sua amante, como fazia habitualmente, deixando Conceição sozinha. Ela, então, apareceu na sala e iniciou uma conversa com Nogueira, que durou até quase meia-noite. Durante esse tempo, eles falaram sobre vários assuntos, como política, religião, amor, casamento, infidelidade, ciúme, etc. Nogueira sentiu-se atraído por Conceição, que era uma mulher bonita, inteligente e virtuosa, mas também percebeu que ela era ambígua e enigmática em suas palavras e gestos. Ele não sabia se ela queria seduzi-lo, consolá-lo, provocá-lo ou simplesmente distrair-se. Ele também não sabia se deveria avançar ou recuar, se respeitar ou desrespeitar a mulher de seu primo. A conversa terminou abruptamente, quando o vizinho bateu na janela, chamando Nogueira para a missa. Nogueira saiu apressado, sem se despedir de Conceição, e nunca mais a viu. Ele ficou com a dúvida sobre o que realmente aconteceu naquela noite e qual era a intenção de Conceição.

O conto Missa do galo é uma obra-prima da narrativa machadiana, que explora com sutileza e ironia os conflitos psicológicos e morais dos personagens, bem como as contradições e ambiguidades da sociedade brasileira do século XIX. O conto é narrado em primeira pessoa, pelo próprio Nogueira, que se mostra um narrador confiável, mas também limitado pela sua memória e pela sua interpretação dos fatos. O conto se passa em um único espaço, a sala da casa de Meneses, e em um curto período de tempo, a noite de Natal. O título do conto faz referência à missa do galo, uma celebração católica que ocorre à meia-noite na véspera do Natal, e que simboliza o nascimento de Jesus. No entanto, o conto também sugere uma outra leitura do título, relacionada ao galo como um símbolo de virilidade, de despertar e de sacrifício. Assim, o conto pode ser visto como uma reflexão sobre o amor, o sexo, a vida e a morte, e sobre as escolhas e as consequências que elas acarretam. O conto também faz uma crítica à hipocrisia e à falsidade das relações conjugais e sociais da época, mostrando como o casamento era visto como uma conveniência e não como uma expressão de afeto. O conto também revela a influência do Realismo e do Naturalismo na obra de Machado de Assis, que retrata os personagens como seres determinados pelo meio, pela época e pela biologia. O conto Missa do galo é, portanto, uma obra que demonstra a genialidade de Machado de Assis, que soube criar uma narrativa envolvente, profunda e original, que desafia o leitor a decifrar os seus mistérios e a questionar os seus valores.

O narrador do conto é Nogueira, um rapaz de 17 anos que veio ao Rio de Janeiro para estudar. Ele se hospeda na casa do escrivão Meneses, também chamado de Chiquinho, que era casado com uma prima sua, já falecida, e agora tem como esposa Conceição, uma mulher de temperamento equilibrado, sem exageros, nem grandes choro, nem grandes risos. Meneses tem uma amante e, uma vez por semana, sai de casa dizendo que vai ao teatro, mas na verdade vai encontrar-se com ela. Conceição sabe deste relacionamento e se mostra resignada. O conto se passa na noite de Natal, numa dessas noites em que o escrivão sai de casa e Nogueira fica na sala esperando um vizinho para ir à Missa do Galo. Enquanto espera e os outros dormem, Conceição vai ao seu encontro na sala da casa, onde conversam sobre vários assuntos e não percebem o tempo passar, até que o companheiro bate à porta chamando-o para a Missa do Galo. No dia seguinte, Conceição age como se nada tivesse ocorrido, sem que nem mesmo se recordasse da conversa que teve com Nogueira na noite anterior. No Ano Novo, Nogueira volta à sua cidade e não mais vê Conceição. Quando retorna ao Rio de Janeiro, Nogueira descobre que Meneses morrera e fica sabendo que Conceição se casou com o juramentado do marido.

O que faz o conto ser bem típico do estilo machadiano é o diálogo entre Nogueira e Conceição de forte carga sensual, ainda que escrito com a delicadeza própria do autor.

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