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[RESENHA #716] Esaú e Jacó, de Machado de Assis

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Originalmente publicado em 1904, Esaú e Jacó trata de uma “história simples, acontecida e por acontecer”: dois jovens bem-nascidos, os gêmeos Pedro e Paulo, digladiam-se em intermináveis conflitos e reconciliações desde o útero da mãe até o começo da idade adulta. Os irmãos lutam pelo amor da jovem Flora Batista, cujo enredo é narrado em terceira pessoa pelo conselheiro Aires - alter-ego de Machado de Assis, que usa o personagem para as suas reflexões autorais. O narrador-personagem compartilha com o leitor suas indagações sobre a arte do romance e, por isso, o crítico e professor Hélio Guimarães, que assina a introdução e as notas do volume, considera essa obra uma verdadeira “teoria da composição ficcional”. Ambientado no Rio de Janeiro durante os anos finais do Império e o início da República, o livro ecoa diversos acontecimentos da história do Brasil - incluindo a Abolição, a Proclamação da República e as revoltas contra o governo Floriano Peixoto -, além de passagens da Bíblia, da Divina comédia e do Fausto de Goethe.

RESENHA

Publicado em 1904, quatro anos antes de falecer, Esaú e Jacó é a penúltima obra de Machado de Assis, que, de acordo com a maioria dos críticos, estava no auge de sua arte literária, após ter escrito, em 1899, Dom Casmurro, o mais famoso de seus livros. Esaú e Jacó se sobressai por aperfeiçoar esta suave habilidade no controle da narrativa. Machado se livra da extravagância ocasional num texto que deixa de lado vestígios do picaresco e se aventura num realismo que retoma a melancolia e o lirismo que marcaram a primeira fase de sua produção literária. Os personagens são muito próximos da realidade.

A ambiguidade narrativa se manifesta com o Conselheiro Aires, personagem e narrador, que, no entanto, também é observado por uma terceira pessoa. Ele interage com Natividade, mãe dos gêmeos Pedro e Paulo, que são os protagonistas deste romance. E Machado alcança quase a perfeição formal ao construir esta trama envolvente onde os iguais são opostos e rivais. Discordam na política, na vida, sempre em lados opostos, um contra o outro, pois Paulo é republicano e estuda na faculdade de Direito, enquanto Pedro é monarquista e faz Medicina, mas ambos disputam o amor da mesma mulher que fica indecisa entre eles.

Com tal jogo de opostos, Machado pode retratar um período de grande turbulência política naqueles finais do século 19, conforme também comentava em crônicas para jornais, não sendo alheio ao livro temas como abolição da escravatura, encilhamento e Estado de sítio, porém o tema mais bem explorado e reconhecido é a Proclamação da República.

Conforme se tem analisado, Machado de Assis dá um tom metafórico e relativista ao romance. Ou seja, na conclusão final, a dúvida se Paulo e Pedro são iguais ou diferentes, está contido o fato de que república e monarquia são mera questão partidária de interesses de grupos políticos, que querem apenas a alternância do poder.

Esaú e Jacó é um romance publicado em 1904, quatro anos antes da morte do autor, considerado um dos maiores nomes da literatura brasileira. A obra narra a história dos gêmeos Pedro e Paulo, que desde o ventre materno já se mostram rivais e opostos em tudo. Pedro é monarquista, médico, dissimulado e cauteloso. Paulo é republicano, advogado, impetuoso e arrojado. Ambos se apaixonam pela mesma mulher, Flora, que não consegue escolher entre eles e acaba morrendo de desgosto. O romance se passa no contexto histórico da transição política do Brasil, do Império para a República, e faz uma crítica irônica e melancólica aos conflitos ideológicos e sociais da época. O título faz referência à parábola bíblica dos irmãos Esaú e Jacó, que também eram gêmeos e inimigos, e que disputavam a bênção do pai, Isaac. O narrador da obra é o Conselheiro Aires, personagem e amigo da família dos gêmeos, que observa e comenta os acontecimentos com um olhar cético e perspicaz. A narrativa é complexa e ambígua, misturando primeira e terceira pessoa, e deixando em aberto o destino dos personagens. Esaú e Jacó é um livro que revela a genialidade de Machado de Assis, que soube retratar com maestria a condição humana e a sociedade brasileira.
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