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[RESENHA #620] Tempo diabo, de Mário L. Cardinale

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APRESENTAÇÃO

Tempo Diabo é a reunião de 40 textos, produzidos entre os anos de 2018 a 2022. Trata-se do segundo da tetralogia poética pensada pelo autor. Os poemas nasceram diante do espanto do poeta ao acompanhar o cotidiano pós-golpe de 2016 no Brasil. A prisão arbitrária de Lula, a chegada da extrema-direita ao poder e a pandemia global do coronavírus, são o pano de fundo deste livro, temas que se aliam a crise da meia-idade, a depressão e muita, muita militância política nas ruas, nas redes e nos versos. Ao “Tempo Diabo” não faltaram chacinas policiais, massacres em escolas, a nova guerra fria, eleições, corrupções e alienação da massa, aliás, nunca tanta tecnologia esteve a serviço do mal. O tempo histórico flui passando apenas uma vez na frente daqueles que observam da margem, este livro é o registro das observações do autor enquanto esteve lá.

RESENHA

Tempo Diabo é um livro de poesias escrito pelo autor paulista Mário L. Cardinale. A obra é um convite reflexivo às nuances estabelecidas durante os períodos sombrios do Brasil, entre os anos de 2018 a 2022 (ano do mandato do ex-presidente Jair Bolsonaro). Publicado pela editora Pedregulho, o livro se consolida como uma luz no fim do túnel na criação de obras políticas e ativistas, contribuindo para a construção das novas vozes da contemporaneidade.

A obra possui uma abordagem ácida e agressiva, mas, ao mesmo tempo, branda e consolidada no sentimento de resiliência. O autor trabalha em seus versos a noção de compaixão para com o leitor, como se o ouvíssemos sussurrar “eu sei como é se sentir assim”. Sua prosa transmite política nas palavras e ativismo nas estrofes.

O poema de abertura, intitulado "Verso-Dependência", é um convite reflexivo ao nosso interior. O autor convida o leitor a refletir sobre tristeza, depressão, dependência emocional e privação em suas várias faces: liberdade, política, interior e reflexão. Podemos observar isso na estrofe a seguir:


"Conflito, essência da existência.

[...]

Medo, instinto de sobrevivência.

Silêncio, sinal de sapiência.

Pecado, em busca de indulgência."

(in -- "Verso-Dependência", grifos meus)


Seguindo sua reflexão política, o autor nos brinda com sua genialidade em “Não Chora Dita”:

[...]

“Pois cada escorrer de suas lágrimas

é um balde de água fria na fé desse povo sofrido.

[...]

Onde está aquele homem? Aquele que nos vestiu de esperança?

Onde está aquele homem? Aquele que só queria erradicar a fome?

Onde está aquele homem que achou que pobre podia andar de avião, andar num carrão, assumir a prestação?”

O poema é um convite reflexivo à vida do atual presidente da república, Lula. O autor nos brinda com sua genialidade e reflexão acerca dos momentos de tensão provocados pelo assombro e pelos rastros de sangue e abandono elencados na presidência do ex-presidente Bolsonaro. O poema grita como o nordestino e as minorias se sentiram após a queda da verdade nas urnas e da vitória do despreparo. Reflete também nos períodos de cárcere, culpa assumida e pelas perseguições sofridas por Lula durante o processo de culpabilização sem provas. Uma prosa prolífica em atos políticos e sociais, um convite à vivência constante do pensamento.

O poema que dá título à obra, "Tempo Diabo", é uma reflexão acerca dos rastros deixados pela pandemia, pela dor, sofrimento e pelos períodos árduos enfrentados pela população durante a presidência de Bolsonaro. O autor reflete na visão adotada pela maioria durante as crises econômicas, sociais, políticas e, sobretudo, pela fome e pela ausência de oportunidades retiradas do povo com soberba e despreparo. O tempo, em suas linhas, está cinza, morto e distante, como em um quadro na parede, como nos sentimentos das pessoas que desenvolveram ou agravaram casos severos de ansiedade, angústias e medos. Confira uma estrofe:

"Vejo quadros incompletos,

faço poemas inacabados,

dias passam apressados,

[...]

Vejo quadros incompletos,

em tons pastéis,

em cinza e preto.

[...]

Mataram o tempo de vez,

ele que parecia imortal."

(in -- "Tempo Diabo", grifos meus)

Em síntese, a obra do autor é um poderoso convite reflexivo às nuances atordoadas e deixadas por períodos difíceis e tortuosos. A escrita é fluida, complementar e reflexiva. O autor usa de seu dom não apenas para trazer quadros repletos de sangue, mas também efervesce os momentos de fé e esperança de um povo por dias melhores. Uma obra prolífica e enriquecedora em seus propósitos, sem dúvidas, uma grande voz no meio do silêncio ensurdecedor provocado pela ausência de caminho. Uma leitura obrigatória para todo leitor que teme a verdade e busca pelo exercício da reflexão.

O AUTOR

Mário L. Cardinale nasceu 1981, na cidade de Poá, região metropolitana de São Paulo. Autista com diagnóstico tardio, é filho de professores e o mais velho de três irmãos. Na juventude, foi líder estudantil. Cursou Farmácia da Universidade de Mogi das Cruzes, graduando-se farmacêutico industrial em 2003. Casado com Monique, é pai de Alice e Gael. Tomado pela escrita em 2016, publica no final de 2020 seu primeiro livro, O Mundo do Poeta. Atualmente, cursa Psicologia atraído pelas áreas do Comportamento e

da Psicologia Social.

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